Archive for 11 de novembro de 2011
Cultivo de alimentos hidropônicos cresce, mas ainda não é regulamentado.
KARINA NINNI - O Estado de S.Paulo
O cultivo de hidropônicos é responsável pela constância do
abastecimento de hortaliças, como alface, agrião e rúcula, na mesa dos
brasileiros. Estima-se que responda por algo entre 35% e 40% do
fornecimento de folhas no País. Mas o Brasil, que tem desde janeiro
deste ano uma legislação específica para os orgânicos, ainda não possui
regulamentação para os hidropônicos.
"Não existem leis para o cultivo de hidropônicos. Há recomendações
tecnológicas e de produção - e alguma fiscalização do uso de defensivos
agrícolas feita por amostragem, assim como ocorre no cultivo
convencional", diz Antônio Bliska Junior, pesquisador da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) que trabalha com hidroponia desde a
década de 1990.
O pesquisador Luis Felipe Villani, do Instituto Agronômico de
Campinas (IAC), atesta. "O Ministério da Agricultura tem portarias
gerais sobre contaminação biológica e por defensivos, mas nada
exclusivamente sobre hidropônicos." De acordo com ele, não existe muita
diferença entre os cultivos hidropônico e convencional. "Em ambos pode
haver deficiência de manejo."
O chefe da divisão de agricultura conservacionista do Ministério da
Agricultura e Pecuária (Mapa), Maurício Carvalho, admite a lacuna. "Não
existe regulação específica para esse processo produtivo no Brasil, mas
há o entendimento de que a água utilizada para o cultivo não deve ser
descartada em rios e cursos d'água, por exemplo."
No último encontro brasileiro de hidroponia, realizado em setembro em
Florianópolis (SC), os produtores - estimados em cerca de 10 mil no
País - discutiram a criação de um selo de certificação, como já existe
para os alimentos orgânicos. "Eles querem dar mais visibilidade aos
hidropônicos e deixar claras as diferenças para o cultivo tradicional e
os orgânicos", afirma Romério José de Andrade, agrônomo da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), ligada ao Ministério da
Agricultura.
A falta de lei específica não é exclusividade do Brasil. Na Costa
Rica há um movimento entre produtores de hidropônicos para a elaboração
de normas sul-americanas. "Como a América Central começa a servir de
horta para o mercado americano, eles têm essa preocupação, pois vão ter
de atestar qualidade na hora de exportar", diz Bliska Junior.
Vantagens. Para os produtores, uma das vantagens do
cultivo de hidropônicos é a possibilidade de produzir mais alimentos em
uma área menor.
Hideo Kuramoto, de Itapecerica da Serra (SP), um dos 4 mil produtores
de hidropônicos do Estado de São Paulo, deixou o sistema tradicional em
2000. De acordo com ele, o manejo do sistema é mais difícil. Ele conta
que em dias quentes, por exemplo, é complicado manter a água na
temperatura adequada. Mas o desafio compensa. Em 27 mil metros quadrados
de estufa, ele produz o que conseguia em 300 mil metros quadrados de
terreno. "Colho mais rápido, reduzi de 40 para 27 o número de
funcionários e não preciso usar tratores nem remover ervas daninhas",
relata o produtor.
Fonte: www.estadao.com.br